RESUMO DO LIVRO O MUNDO DE SOFIA
O JARDIM DO ÉDEN
Sofia era uma menina de quase quinze anos que morava com sua
mãe pois o trabalho de seu pai o deixava ausente boa parte do tempo. Em um dia
belo, quando voltava da escola, encontrou com dois pequenos envelopes brancos,
não simultaneamente. Cada um deles continha uma indagação e elas levaram Sofia
a refletir sobre a vida e a origem do mundo. Também recebeu um cartão-postal
que deveria ser entregue a uma pessoa que ela nem conhecia e a qual o nome era
Hilde.
Sofia foi pensar e refletir sobre os envelopes em um
esconderijo no jardim de sua casa. Para ela, ele representava um mundo à parte,
um paraíso particular, como o jardim do Éden mencionado na Bíblia.
A CARTOLA
O conteúdo do envelope amarelo que Sofia recebe diz que as
pessoas têm preferências por diversos tipos de assuntos: umas gostam de
esporte, outras curtem observar os astros. Porém existem questões que deveriam
interessar a todos como, por exemplo, saber quem somos e de onde viemos. Essas e
muitas outras têm sido pensadas e discutidas há muito tempo e as explanações
para elas variam de acordo com o contexto histórico.
Hoje em dia também devemos procurar nossas respostas e é
importante conhecermos o que foi dito em outras épocas para que possamos formar
uma opinião própria. O professor de filosofia também faz referência a um truque
mágico onde um coelhinho branco é tirado de uma cartola preta. Assim, ele quer
passar para Sofia a idéia de que também fazemos parte de um grande mistério e
nos comparar ao coelho com a diferença de que, ao contrário deste, temos
consciência de estarmos participando de um enigma e procuramos explicações para
isso.
No mesmo dia, Sofia recebe um outro envelope amarelo.
Primeiramente, o professor faz uma citação: "a única coisa de que
precisamos para nos tornarmos bons filósofos é a capacidade de nos admirarmos
com as coisas". Depois diz que os bebês possuem esta capacidade mas, à
medida que crescem, vão perdendo-a. Deste modo, compara um filósofo a uma
criança: tanto um quanto o outro ainda não se acostumaram com o mundo e não
pretendem se acomodar com as coisas.
OS MITOS
No dia seguinte Sofia
leu sobre a visão mitológica do mundo. Os mitos surgiram da necessidade do
homem justificar fenômenos como o crescimento das plantas, as chuvas, os
trovões, etc. Tudo que ocorria aqui na Terra estava intimamente ligado ao que
acontecia no mundo dos deuses. Dessa maneira, secas, epidemias e outras coisas
ruins eram reflexo de que as forças do mal triunfavam sobre as do bem e o
inverso ocorria quando havia fartura e riqueza.
Por volta de 700 a.C. Homero e Hesíodo registraram por
escrito boa parte da mitologia grega. Isso foi importante, pois agora era
possível questioná-la. Xenófanes foi um filósofo crítico em relação aos mitos
pelo fato de seus representantes terem sido criados à imagem e semelhança das
pessoas.
OS FILÓSOFOS DA NATUREZA
A denominação
"filósofos da natureza" é dada aos primeiros pensadores gregos por
estes se interessarem pelos processos naturais. Eles partiram do pressuposto de
que sempre existiu alguma coisa e, vendo as transformações que ocorriam no meio
ambiente, indagavam-se como aquilo era possível. Então, acreditavam que havia
uma substância básica que subjazia a todas essas transformações.
Esses filósofos também tentaram descobrir leis eternas a
partir da observação dos fatos, desconsiderando as explanações mitológicas.
Assim, a filosofia se libertava da religião e os primeiros indícios de uma
forma científica de pensar começavam a aparecer.
Tales achava que a água era um elemento de fundamental
importância. Dela tudo se originava e a ela tudo retornava. Anaximandro não
pensou como Tales. A seu ver, a Terra era um entre vários mundos surgidos de
alguma coisa, sendo que tudo se dissolveria nessa "alguma coisa" que
ele denominava de infinito. E finalmente, Anaxímenes (c. 550-526 a.C.) cria que
o ar era a substância básica de todas as coisas. A água seria a condensação do
ar e o fogo, o ar rarefeito. Pensava ainda que se comprimisse mais ainda a água,
esta se tornaria terra.
Para Parmênides, nada podia vir do nada e nada que existisse
poderia se transformar em outra coisa. Era extremamente racionalista e não
confiava nos sentidos. Não acreditava nem quando via, embora soubesse que a
natureza se transformava.
Heráclito pensou que a principal característica da natureza
eram suas constantes transformações. Ele confiava nos sentidos. Sobre ele,
podemos falar ainda que acreditava que o mundo estava impregnado de constantes
opostos: guerra e paz, saúde e doença, bem mal e que reconhecia haver uma
espécie de razão universal dirigente de todos os fenômenos naturais.
Para acabar com o impasse a que a filosofia se encontrava,
Empédocles (c. 494-434 a.C.) fez uma síntese do modo de pensar de Heráclito e
Parmênides e com isso chegou a uma evolução do pensamento.
Empédocles acreditava na existência de mais de uma
substância primordial. Para ser mais exato, havia quatro elementos básicos:
terra, ar fogo e água e tudo existente era produto da junção disso, em proporções
diferentes. Achava também que o amor e a disputa eram duas forças que atuavam
na natureza. O amor une e a disputa separa as coisas.
Anaxágoras (c.500-428 a.C.) declarava que as coisas eram
constituídas por pequenas partículas invisíveis a olho nu. Estas podiam se
dividir, mas mesmo na pequena parte existia o todo. Ele denominava estas partes
minúsculas de sementes ou gérmens. Também imaginou uma força superior, a
inteligência, responsável pela criação das coisas.
Anaxágoras foi o primeiro filósofo de Atenas, mas foi
expulso da cidade acusado de ateísmo. Interessava-se por astronomia, explicou
que a Lua não possuía luz própria e como surgiram os eclipses.
DEMÓCRITO
Demócrito (c. 460-370 a.C.) foi o último filósofo da
natureza. Ele imaginou a constituição das coisas por partículas indivisíveis,
minúsculas, eternas e imutáveis e as chamou de átomos. Estes, a seu ver,
possuíam vários formatos, se diferenciavam entre si e podiam ser
reaproveitados. Por exemplo, quando um animal morresse seus átomos
participariam da constituição de outros corpos.
Era justamente por isso que o Lego era o brinquedo mais
genial do mundo. Ele podia ser utilizado para a construção de vários objetos,
ficando a cargo da imaginação das pessoas. Era resistente e "eterno",
pois em qualquer época, crianças se interessavam por este tipo de
entertenimento.
Demócrito foi um filósofo que valorizou a razão e as coisas
materiais. Não acreditava em forças que intervissem nos processos naturais.
Achava também que sua teoria atômica explicava nossas percepções sensoriais e
que a consciência e a alma também se constituíam de átomos. Ele não cria numa
alma imortal.
O DESTINO
Uma das características dos antigos gregos era o fato de
eles serem fatalistas, isto é, acreditar que tudo que vai acontecer já está
pré-destinado. Para eles, as doenças eram vistas como um castigo de Deus.
Achavam também que os deuses podiam curar as pessoas, bastando para isso que
lhes fosse feito o sacrifício apropriado.
SÓCRATES
Sofia recebeu a carta
do seu professor de filosofia que pedia desculpas por recusar o convite de ir
até a sua casa conhecê-la pessoalmente. Nela estava seu nome: Alberto Knox. No
entanto, ele a presenteou com uma echarpe de seda. Quando olhou o verso da
carta, viu algumas perguntas e passou algum tempo refletindo sobre elas. Ela
estava em seu esconderijo. Num dado instante, percebeu que alguém vinha da
floresta. Passados alguns instantes, entrou em seu local secreto um grande cão
labrador com um envelope amarelo na boca. Então, ela descobriu que ele o
mensageiro de seu professor. A nova carta falava da filosofia em Atenas e de
Sócrates.
Na cidade de Atenas primeiramente surgiram os sofistas –
homens que criaram uma crítica social . Eles discutiam sobre o que era natural
e o que não era, ou seja, o que era criado pela sociedade. Sócrates foi
contemporâneo dos sofistas. Ele também se ocupava das pessoas e de suas vidas,
levando-as a refletirem por si mesmas sobre coisas como os costumes, o bem e o
mal. Mas ele diferia dos sofistas por não se considerar um sábio, não cobrava
por seus ensinamentos e tinha a convicção de que nada sabia. Reconhecia que
havia muita coisa além do que podia entender e vivia atormentado em busca do
conhecimento. Sócrates ousou mostrar as pessoas que elas sabiam muito pouco.
Para ele o importante era encontrar um alicerce seguro para os conhecimentos.
Ele era um racionalista convicto. Em 399 a.C. foi acusado de corromper a
juventude e de não reconhecer a existência dos deuses. Foi julgado, considerado
culpado e condenado à morte.
ATENAS
Sofia encontrou mais um dos envelopes amarelos e desta vez
veio uma fita de vídeo. Ela correu para sua casa e ao colocá-la no aparelho
apareceram imagens de uma grande cidade que ela supôs ser Atenas. Pouco tempo
depois, um homem apresentou-se no filme e começou a falar da capital grega. Era
seu professor.
Ele falou a Sofia sobre a Acrópole e seu significado, sobre
os templos e a época áurea de Atenas. Mostrou-lhe monumentos, o antigo teatro
de Dioniso onde se realizavam as comédias e tragédias gregas, o Areópago, as
ruínas da antiga praça do mercado onde numa época bastante remota concentrava
tribunais, edifícios públicos, comércio, ginásio de esportes, etc.
Porém, ele achava que isso não era o bastante para Sofia e
então, como num passe de mágica, toda a Atenas se reconstruiu. Todos aqueles
edifícios e templos apareceram novos, intactos. Várias pessoas trajadas de modo
diferente andavam pelas ruas. Nesse momento, seu professor surgiu novamente
para a câmera e apresentou Sofia a Sócrates e Platão. Este, fez-lhe algumas
perguntas par que ela refletisse depois e, de repente, o filme acabou.
PLATÃO
Platão (427-347 a.C.) foi discípulo de Sócrates e o
acompanhou em sua condenação. Publicou um discurso em defesa de seu mestre onde
revelava o que ele havia dito ao júri. Além disso, escreveu uma coletânia de
cartas e mais de trinta diálogos filosóficos e fundou sua própria escola de
filosofia, que recebeu o nome de Academia, porque se localizava num bosque
denominado Academos, herói legendário grego.
O projeto filosófico de Platão é baseado no seu interesse
pelo que é eterno e imutável tanto no que se refere à natureza, quanto à moral
e à sociedade. Platão acreditava numa realidade autônoma por trás do mundo dos
sentidos a qual denominou de mundo das idéias que, a seu ver, continha as
coisas primordiais e imagens padrão referentes a tudo existente.
Platão acreditava na dualidade humana: o homem possui um
corpo (que flui) e uma alma imortal (a morada da razão). Ele também achava que
a alma já existia antes de vir habitar nosso corpo (ela ficava no mundo das
idéias) e que quando passava a habitá-lo, esquecia-se das idéias perfeitas.
Também pensava que a alma desejava se libertar do homem e isso propiciava um
anseio, uma saudade, que chamou de Eros (amor).
Platão dividiu o corpo humano em três partes: cabeça
(razão), peito(vontade) e baixo-ventre (desejo ou prazer) e achava que quando
elas agiam como um todo tinha-se o homem íntegro, que atingiu a temperança.
Imaginava um Estado-modelo dirigido por filosófos e o constituía como o ser
humano onde a cabeça seria os governantes; o peito (defesa), os sentinelas; e o
baixo-ventre, os trabalhadores. Era extremamente racionalista e cria que tanto
homens quanto mulheres possuíam capacidade de governar, desde que estas
tivessem a mesma formação daqueles.
A CABANA DO MAJOR
Depois de ler sobre Platão, Sofia permaneceu em seu
esconderijo refletindo sobre as idéias deste filósofo. Era um dia de Domingo e
ainda estava bastante cedo. Então, ela resolveu ir floresta adentro a fim de
encontrar seu professor de filosofia, cujo nome era Alberto Knox.
Sofia seguiu a trilha que cortava a floresta e, pouco tempo
depois, viu um lago e do outro lado, uma cabana. Ela o atravessou usando um
barco a remo. Quando chegou à casa, bateu na porta e, como ninguém respondeu,
resolveu entrar.
Sofia entrou numa sala grande e concluiu que alguém morava
ali, pois havia resquícios de fumaça num velho fogão à lenha. Viu uma máquina
de escrever, alguns livros, dois quadros na parede (Berkeley e Bjerkely) e um
grande espelho com moldura de latão entre outras coisas. Encontrou também uma
tigela com restos de comida o que significava que quem ali residia possuía um
animal. Quando foi ao quarto viu dois cobertores e sobre eles pêlos amarelos.
Então, deduziu que na cabana moravam Alberto e seu cachorro Hermes.
Antes de sair, Sofia viu uma carteira sobre a cômoda que
ficava abaixo do espelho. Ela a abriu e viu, dentre outras coisas, uma carteira
de estudante de Hilde Knag. Sofia se assombrou. Quando ia saindo, viu um
envelope com seu nome sobre a mesa e, involuntariamente, o pegou e correu.
Porém, um problema lhe esperava: o barco estava no meio do lago. Então, para
retornar à sua casa, ela teve que dar a volta pela floresta.
No caminho, abriu o envelope que pegara, leu o seu conteúdo
e achou que tinha alguma coisa a ver com o próximo filósofo, Aristóteles. Ao
chegar à casa eram quase onze horas da manhã. Encontrou sua mãe preocupada e
lhe explicou que tinha ido dar uma volta na floresta, falou da cabana, o barco
e o estranho espelho. Sua mãe então lhe disse que o lugar onde ela havia ido
era conhecido pelo nome de "cabana do major" porque há muitos anos
tinha vivido lá um velho major.
Depois disso, Sofia foi para o seu quarto e lá pensou sobre
tudo que tinha passado. Ficou receosa por haver entrado na casa de seu
professor e então resolveu escrever-lhe uma carta pedindo desculpas.
ARISTÓTELES
Aristóteles (384-322 a.C.) foi aluno da Academia de Platão.
Era natural da Macedônia e filho de um médico famoso. Seu projeto filosófico
está no interesse da natureza viva. Ele foi o último grande filósofo grego e
também o primeiro grande biólogo da Europa. Utilizava-se da razão e também dos
sentidos em seus estudos. Criou uma linguagem técnica usada ainda hoje pela
ciência e formulou sua própria filosofia natural.
Aristóteles discordava em alguns pontos de Platão. Não
acreditava que existisse um mundo das idéias abrangedor de tudo existente;
achava que a realidade está no que percebemos e sentimos com os sentidos, que
todas as nossas idéias e pensamentos tinham entrado em nossa consciência
através do que víamos e ouvíamos e que o homem possuía uma razão inata, mas não
idéias inatas.
Para Atistóteles, tudo na natureza possuía a probabilidade
de se concretizar numa realidade que lhe fosse inerente. Assim, uma pedra de
granito poderia se transformar numa estátua desde que um escultor se dispusesse
a escupi-la. Da mesma forma, de um ovo de galinha jamais poderia nascer um
ganso, pois essa característica não lhe é inerente.
Aristóteles acreditava que na natureza havia uma relação de
causa e efeito e também acreditava na causa da finalidade. Deste modo, não
queria saber apenas o porquê das coisas, mas também a intenção, o propósito e a
finalidade que estavam por trás delas. Para ele, quando reconhecemos as coisas,
as ordenamos em diferentes grupos ou categorias e tudo na natureza pertence a
grupos e subgrupos. Ele foi um organizador e um homem extremamente meticuloso. Também
fundou a ciência da lógica.
Aristóteles dividia as coisas em inanimadas (precisavam de
agentes externos para se transformar) e criaturas vivas (possuem dentro de si a
potencialidade de transformação). Achava que o homem estava acima de plantas e
animais porque, além de crescer e de se alimentar, de possuir sentimentos e
capacidade de locomoção, tinha a razão. Também acreditava numa força impulsora
ou Deus (a causa primordial de todas as coisas).
Sobre a ética, Aristóteles pregava a moderação para que se
pudesse ter uma vida equilibrada e harmônica. Achava que a felicidade real era
a integração de três fatores: prazer, ser cidadão livre e responsável e viver
como pesquisador e filósofo. Cria também que devemos ser corajosos e generosos,
sem aumentar ou diminuir a dosagem desses dois itens. Aristóteles chamava o
homem de ser político. Citava formas de governo consideradas boas como a
monarquia, a aristocracia e a democracia. Acreditava que sem a sociedade ao
nosso redor não éramos pessoas no verdadeiro sentido do termo.
Para ele, a mulher era "um homem incompleto".
Pensava que todas as características da criança já estavam presentes no sêmen
do pai. Sendo assim, o homem daria a forma e a mulher, a substância. Essa visão
distorcida predominou durante toda a Idade Média.
O HELENISMO
O final do séc. IV
a.C. até por volta de 400 d.C. marcou um longo período que é conhecido por
helenismo, ou seja, a predominância da cultura grega nos três grandes reinos
helênicos: Macedônia, Síria e Egito. Alexandre foi uma figura importante nesta
época, pois ele conseguiu a derradeira e decisiva vitória sobre os persas e
também uniu o Egito e todo o Oriente, até a Índia, à civilização grega. A
partir de 50 a.C. Roma, que tinha sido província da cultura grega, assumiu o
predomínio militar e começou o período romano também conhecido como final da
Antigüidade.
O helenismo foi marcado pelo rompimento de fronteiras entre
países e culturas. Quanto à religião houve uma espécie de sincretismo; na
ciência, a mistura de diferentes experiências culturais; e a filosofia dos
pré-socráticos e de Sócrates, Platão e Aristóteles serviu como fonte de
inspiração para diferentes correntes filosóficas as quais veremos algumas
agora.
A filosofia cínica foi fundada em Atenas
por Antístenes (discípulo de Sócrates)
por volta de 400 a.C. Os cínicos diziam que a
felicidade podia ser alcançada por todos, pois ela não consistia em luxúria,
poder político ou boa saúde e sim em se libertar disto tudo. Achavam que as
pessoas não deviam se preocupar com o sofrimento (próprio ou alheio) nem com a
morte. O principal representante desta corrente filosófica foi Diógenes
(discípulo de Antístenes).
A filosofia estóica surgiu em Atenas por volta de 300 a.C. e
seu fundador foi Zenão, originário da ilha de Chipre. Os estóicos consideravam
as pessoas como parte de uma mesma razão universal e isto levou à idéia de um
direito universalmente válido, inclusive para os escravos. Eram monistas
(negavam a oposição entre espírito e matéria) e cosmopolitas. Interessavam-se
pela convivência em sociedade, por política e acreditavam que os processos
naturais (morte, por exemplo) eram regidos pelas leis da natureza e por isso o
homem deveria aceitar deu destino. O imperador romano Marco Aurélio (121-180),
o filósofo e político Cícero (106-43 a.C.) e Sêneca (4 a.C.-65 d.C.) foram
alguns que seguiram o estoicismo.
Aristipo foi aluno de Sócrates. Ele desenvolveu uma
filosofia cujo objetivo era obter para a vida, através dos sentidos, o máximo
possível de satisfação afastando toda e qualquer forma de sofrimento. Por volta
de 300 a.C. Epicuro (341-270 a.C.) fundou em Atenas a escola dos epicureus que
desenvolveu mais ainda a ética do prazer de Aristipo e a combinou com a teoria
atômica de Demócrito. Epicuro ensinava que o resultado prazeroso de uma ação
devia ser ponderado, por causa dos efeitos colaterais. Achava também que o
prazer a longo prazo possibilitava mais satisfação ao homem. Ele se utilizava
da teoria de Demócrito contra a religião e superstição. Os epicureus quase não
se interessavam pela política e sociedade e sua palavra de ordem era
"Viver o momento".
O neoplatonismo foi a mais importante corrente filosófica da
Antigüidade. Ela foi inspirada em Platão. O neoplatônico mais importante foi
Plotino (c. 205-270). Ele via o mundo como algo dividido entre dois pólos: numa
extremidade estava a luz divina, Uno ou Deus. Na outra reinavam as trevas
absolutas. A seu ver, a luz do Uno iluminava a alma, ao passo que a matéria
eram as trevas. O neoplatonismo exerceu forte influência sobre a teologia
cristã.
Uma experiência mística significa experimentar a sensação de
fundir sua alma com Deus. É que o "eu" que conhecemos não é nosso
"eu" verdadeiro e os místicos procuravam conhecer um "eu"
maior que pode possuir várias denominações: Deus, espírito cósmico, universo,
etc. No entanto, para chegar a esse estado de plenitude, é preciso passar por
um caminho de purificação e iluminação através de uma vida simples. Encontra-se
tendências místicas nas maiorias religiões do mundo. Na mística ocidental (
judaísmo, cristianismo e islamismo ), o místico diz que seu encontro é com um
Deus pessoal. Na oriental ( hinduísmo, budismo e religião chinesa ) o que se
afirma é que há uma fusão total com deus, que é o espírito cósmico. É
importante notar que essas correntes místicas já existiam muito antes de Platão
e que pessoas de nossa época têm relatado experiências místicas como uma forma
de experimentar o mundo sob a perspectiva da eternidade.
OS CARTÕES-POSTAIS
Passados alguns dias
sem que Sofia nada recebesse do seu professor de filosofia e como ela estaria
livre a partir da quinta-feira devido a um feriado, aceitou o convite de sua
amiga Jorunn para acampar e escolheu, intencionalmente, um lugar próximo à
cabana do major, pois ela pretendia ir lá novamente.
Chegando ao local, armaram a barraca e depois de organizarem
tudo, fizeram um lanche. Sofia perguntou se Jorunn já tinha ouvido falar da
cabana e convenceu a amiga a ir até lá. Depois de uma caminhada, avistaram o
lago e a casa que parecia estar abandonada. Utilizaram o barco para irem para o
outro lado e, desta vez, Sofia teve todo o cuidado de puxá-lo.
Quando entraram na casa estava muito escuro, mas Sofia tinha
trazido fósforo e acendeu uma vela que lá havia. Então, chamou Jorunn para ver
o espelho e lhe disse que era um espelho mágico. Nesse momento, Jorunn
descobriu alguma coisa no chão da sala. Eram cartões-postais. Todos vinham do
Líbano e estavam endereçados a Hilde Knag. Sofia teve um certo receio, pois seu
nome poderia estar mencionado nos cartões (Jorunn não sabia sobre o filósofo
nem sobre outros cartões que Sofia recebera ) mas começou a lê-los com a amiga.
Eles falavam do aniversário de quinze anos de Hilde e sobre um misterioso
presente que ela receberia. No entanto, no último cartão estavam mencionados os
nomes de Sofia e Jorunn. Elas ficaram assustadas. Além disso, ainda havia um
detalhe: era dezesseis de maio de mil novecentos e noventa e o cartão indicava
a mesma data. Como aquilo era possível? Sofia disse que tinha algo a ver com o
espelho mágico e Jorunn achou absurdo , mas não havia outra explicação. Ela
ainda mostrou à amiga os dois quadros na parede -- Berkeley e Bjerkely. A vela
já estava quase no fim. Jorunn queria ir embora e Sofia a seguiu mas, antes
disso, resolveu levar o espelho consigo. As duas voltaram para o acampamento
caladas.
Na manhã seguinte, após tomarem café, conversaram sobre os
cartões-postais e caminharam de volta para casa. No outro dia, pela manhã,
Sofia foi até seu esconderijo e encontrou outro envelope amarelo. Imediatamente
começou a ler.
DOIS CÍRCULOS CULTURAIS
A denominação indo-europeus é dada a todos os países e
culturas nos quais são faladas as línguas indo-européias . Os indo-europeus
primitivos viveram há mais ou menos quatro mil anos nas proximidades dos mares
Negro e Cáspio. De lá, espalharam-se por diversos lugares: Irã, Índia, Grécia,
Itália, Espanha, Inglaterra, França, Escandinávia, Leste Europeu e Rússia,
formando o círculo cultural indo-europeu. Dentre outras coisas, pode-se dizer
que sua cultura era marcada pelo politeísmo, a visão era o principal sentido
para eles e acreditavam que a história era cíclica. As duas grandes religiões
orientais – hinduísmo e budismo – são de origem indo-européia. O mesmo vale
para a filosofia grega. Nessas religiões, enfatiza-se a presença de Deus em
tudo (panteísmo). Outro ponto importante é a crença de que o homem pode chegar
a uma unidade com Deus por meio do conhecimento religioso. No Oriente, a
passividade e a vida reclusa são vistas como ideais religiosos e em muitas
culturas indo-européias acredita-se na metempsicose ou transmigração da alma.
Os semitas pertencem a um círculo cultural completamente
diferente, com uma língua completamente diferente também. Eles são originários
da península da arábia e também se expandiram para extensas e diferentes partes
do mundo. As três religiões ocidentais – judaísmo, o cristianismo e o islamismo
– têm base semita. De modo geral, o que se pode dizer dos semitas é que eram
monoteístas, possuíam uma visão linear da história, a audição desempenhava
papel preponderante e proibiam a representação pictórica. Quanto à história, é
interessante saber que, para eles, ela começou com a criação do mundo por Deus
e Este tinha o poder de intervir em seu curso. Em relação às imagens, ainda são
proibidas no judaísmo e no islamismo, mas no cristianismo são permitidas devido
à influência do mundo greco-romano.
Agora vamos examinar o pano de fundo judeu do cristianismo.
A história é a seguinte: houve a criação do mundo e a rebelação do homem contra
Deus (Adão e Eva) e a partir de então, a morte passou a existir na Terra. A
desobediência do homem a Deus atravessa toda a história contada na Bíblia. No
Gênesis há a menção do pacto feito entre Deus e Abraão e seus descendentes que
exigia a obediência rigorosa aos mandamentos de Deus. Esse pacto foi mais tarde
renovado com a entrega das Tábuas da Lei a Moisés no monte Sinai. Naquela
época, os israelitas viviam havia muito tempo como escravos no Egito, mas foram
libertados e levados de volta a Israel onde se formou dois reinos – Israel (ao
Norte) e Judá (ao Sul) – que foram assolados por guerras, e por todos os
séculos que se seguiram até o nascimento de Jesus Cristo, os judeus continuaram
sob dominação estrangeira. O povo judeu não entendia o motivo de tanta desgraça
e atribuía isso ao castigo de Deus sobre Israel devido à sua desobediência.
Então começaram a surgir profecias sobre o Juízo Final e também sobre a vinda
de um "príncipe da paz" que iria restaurar o antigo reino de Davi e
assegurar ao povo um futuro feliz. Esse messias viria para restituir a Israel a
sua grandeza e fundar um "Reino de Deus".
No contexto de toda essa efervescência nasceu Jesus Cristo.
Naquela época, o povo imaginava o messias como um líder político, militar e
religioso. Outros, duzentos anos antes do nascimento de Jesus, diziam que o
messias seria o libertador de todo o mundo. Mas Jesus apareceu com pregações
diferentes das que vigoravam e admitia publicamente não ser um comandante
militar ou político. E mais, dizia que o Reino de Deus era o amor ao próximo e
aos inimigos. Ele não considerava indigno conversar com prostitutas,
funcionários corruptos e inimigos políticos do povo e achava que estes seriam
vistos por Deus como pessoas justas bastando para isso que se voltassem para
Ele e Lhe pedisse perdão. Jesus acreditava que nós mesmos não podíamos nos
redimir de nossos pecados e que nenhuma pessoa era reta aos olhos de Deus. Ele
foi um ser humano extraordinário. Soube usar de forma genial a língua de seu
tempo e deu a conceitos antigos um sentido novo, extremamente ampliado. Tudo
isto acrescentado a sua mensagem radical de redenção dos homens ameaçava tantos
interesses e posições de poder que ele acabou sendo crucificado. Para o
cristianismo, Jesus foi o único homem justo que viveu e o único que sofreu e
morreu por todos os homens.
Alguns dias depois da crucificação e enterro de Jesus,
começaram a surgir boatos sobre sua ressurreição. Pode-se dizer que a Igreja
cristã começou naquela manhã de Páscoa. Paulo disse: "Pois se Cristo não
ressuscitou, então todo nosso sermão é vão; é vã toda a vossa crença". A
partir de então todas as pessoas podiam ter esperança na "ressurreição da
carne". Os primeiros cristãos começaram a espalhar a "boa-nova"
da redenção pela fé em Cristo. Poucos anos depois da morte de Jesus, o fariseu
Paulo se converteu ao cristianismo e suas viagens missionárias pelo mundo
greco-romano transformaram o cristianismo numa religião universal. Quando
esteve em Atenas, ele fez um discurso do Areópago que falava do Deus que os
atenienses desconheciam e isso provocou um choque entre a filosofia grega e a
doutrina da redenção cristã. Apesar de tudo, Paulo encontrou nessa cultura um
sólido apoio, ao chamar atenção para o fato de que a busca por Deus estava
dentro de todos os homens. Em Atos dos Apóstolos está escrito que depois de seu
discurso, foi vítima de zombaria por parte de algumas pessoas, quando estas o
ouviram dizer que Cristo havia ressuscitado dos mortos. Mas também houve os que
se interessaram pelo assunto. Depois, Paulo prosseguiu em sua tarefa
missionária e passadas algumas décadas da morte de Cristo já existiam
comunidades cristãs em todas as cidades gregas e romanas mais importantes.
Paulo não foi importante para o cristianismo apenas por suas
pregações missionárias. Dentro das comunidades cristãs, sua influência era
muito grande pois as pessoas também queriam uma orientação espiritual. Pelo
fato de o cristianismo não ser a única religião nova daquela época, a Igreja
precisava definir claramente a doutrina cristã, a fim de estabelecer seus
limites em relação às demais religiões e evitar uma cisão interna. Surgiram
assim as primeiras profissões de fé, os primeiros credos que resumiam os
princípios ou os dogmas cristãos mais importantes como o que dizia que Jesus
havia sido Deus e homem ao mesmo tempo e de forma plena e que realmente tinha
padecido na cruz.
A IDADE MÉDIA
Sofia recebeu um telefonema de Alberto dizendo que de agora
em diante não haveria mais cartas. Ele marcou um encontro para lhe falar sobre
a Idade Média. Disse que o pai de Hilde já estava fechando o cerco e que
precisavam batalhar juntos. Sofia não entendeu nada. Eles se encontraram numa
igreja antiga construída na época medieval. Era de madrugada. Quando Sofia
chegou lá ficou a espera de seu professor. Passados alguns instantes ele entrou
vestido de monge e começou a falar sobre a Idade Média. Dentre outras coisas
disse que na Idade Média se formou uma unidade cultural cristã sólida. Havia
uma contradição entre Deus e razão. Essa problemática foi tratada por dois
importantes filósofos desta época: Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. O
primeiro dividiu o mundo entre bem e mal, mesclou sua concepção filosófica com
a de Platão e a do cristianismo ("cristianizou Platão"); achava que o
mal era a ausência de Deus e que a "boa vontade era obra de Deus". O
segundo foi o filósofo quem "cristianizou Aristóteles".
Atribui-se-lhe o mérito de ter conseguido fazer uma síntese da fé e do conhecimento.
Achava que existiam dois caminhos para se chegar a Deus: a revelação cristã e a
razão e os sentidos. Acreditava que Deus havia se revelado ao homem através da
Bíblia e da razão.
O RENASCIMENTO
Na noite seguinte Sofia teve um sonho com Hilde. Ao acordar,
achou uma corrente de ouro com uma cruz. No seu verso estavam grafadas três
letras: HMK, as iniciais de Hilde. No outro dia, Domingo, Sofia viu Hermes no
jardim de sua casa e foi até ele que a conduziu para um casarão onde encontrou
um cartão destinado a Hilde com a data antecipada. Lá, encontrou também
Alberto. Então ele lhe deu explicações sobre o Renascimento.
Entende-se por Renascimento um período de apogeu cultural
que fez nascer de novo a arte e a cultura da Antigüidade. Neste período, o
homem voltou a ocupar o centro de todas as coisas (antropocentrismo) ao
contrário do que ocorria na Idade Média (teocentrismo). Por isso fala-se do
humanismo do renascimento. A Igreja aos poucos foi perdendo seu poder e
monopólio no que se refere à transmissão do conhecimento. A moda naquela época
era tornar o ser humano algo grandioso e valioso. O humanismo do renascimento
foi muito marcado pelo individualismo. A nova visão do homem centrava-se no
interesse pela anatomia e nas representações dos nus humanos. O homem, a partir
desta concepção, não existia apenas para servir a Deus, mas a ele próprio. Vale
ressaltar que no Renascimento desenvolveu-se um novo método científico – o
princípio vigente era o da investigação da natureza mediante a observação e a
experimentação – método empírico.
O BARROCO
Durante alguns dias, Sofia não teve notícias de Alberto.
Numa conversa com sua mãe, disse que queria uma festa em seu aniversário. Ela
continuou recebendo os cartões-postais mandados pelo pai de Hilde. A cada dia
percebia que estava diante de um enigma. Então, foi novamente ver Alberto.
Quando chegou a sua casa ele lhe disse que queria falar-lhe sobre o séc. XVII,
ou seja, sobre a época conhecida por barroco.
A designação barroco tem sua origem numa palavra que
significa "pérola irregular." Na arte do barroco houve a valorização
das formas opulentas, cheias de contrastes. Em muitos aspectos, o barroco foi
marcado pela vaidade e pela irracionalidade. Do ponto de vista político, o séc.
XVII foi uma época de contrastes: de um lado guerras e de outro o surgimento de
potências na Europa como a França. No aspecto social, a principal
característica foram as diferenças de classes. A arquitetura trazia formas
sobrecarregadas de ornamentos que ocultavam as linhas da estrutura. Um correlato
disso na política seriam os assassinatos, as intrigas e as conspirações. Dentre
os principais representantes desta época destacam-se: William Shakespeare, o
poeta dramático espanhol, Calderón de la Barca e Ludvig Holdberg (já trazia
traços do Iluminismo).
DESCARTES
René Descartes nasceu em 1596. Ele foi uma pessoa que se
dedicou muito a viagens pela Europa e pode-se dizer que foi o fundador da
filosofia dos novos tempos e o primeiro grande construtor de um sistema
filosófico que foi seguido por Spinoza e Leibniz, Locke e Berkeley, Hume e
Kant. Sistema filosófico é uma filosofia de base cujo objetivo é encontrar
respostas para as questões filosóficas mais importantes. Uma coisa que ocupou a
atenção de Descartes foi a relação, entre corpo e alma. Sua obra mais
importante é Discurso do método, onde explica, entre outras coisas, que não se
deve considerar nada como verdadeiro. Ele queria aplicar o método matemático à
reflexão da filosofia e provar as verdades filosóficas como se prova um
princípio de matemática, ou seja, empregando a razão. Em seu raciocínio,
Descartes objetiva chegar a um conhecimento seguro sobre a natureza da vida e
afirma que para tanto deve-se partir da dúvida. Ele achava importante descartar
primeiro todo o conhecimento constituído antes dele, para só então começar a
trabalhar em seu projeto filosófico. Achava também que não devíamos confiar em
nossos sentidos. Era, portanto, racionalista. Uma das conclusões a que chegou
foi a de que a única coisa sobre a qual se podia ter certeza era a de que
duvidava de tudo. Acreditava na existência de Deus como algo tão evidente
quanto o fato de que alguém que pensa era um ser, um Eu presente. Achava que o
homem era um ser dual: tanto pensa como ocupa lugar no espaço. Descartes morreu
aos 54 anos, mas mesmo após sua morte continuou a ser uma figura de grande
importância para a filosofia. Ele foi um homem à frente de seu tempo.
SPINOZA
Baruch Spinoza foi um filósofo holandês que recebeu
influências de Descartes. Ele pertencia à comunidade judaica de Amsterdã, mas
foi excomungado por heresia. Contestava o fato de que cada palavra da Bíblia
fosse inspirada por Deus e dizia que quando a lemos temos que fazê-lo com uma
postura crítica. Com essa forma de pensar, foi sendo isolado por todos, até por
sua família. Seu sustento provinha do polimento de lentes e isso tem um
significado simbólico, pois a tarefa de um filósofo é justamente ajudar as
pessoas a ver a vida de um modo novo. Em sua filosofia é fundamental enxergar
as coisas sobre a perspectiva da eternidade.
Spinoza era panteísta, ou seja, achava que Deus estava
presente em tudo que existia. Em relação à ética, ele a entendia como a
doutrina de como deve-se viver para ter uma boa vida. Também era racionalista e
pretendeu mostrar que a vida do homem é governada pelas leis da natureza.
Achava que o homem tinha que se libertar de seus sentimentos e sensações para
só então encontrar a paz e ser feliz. Ele era monista (acreditava somente numa
natureza material, física). Spinoza considerava Deus, ou as leis da natureza, a
causa interna de tudo o que acontecia. Ele tinha uma visão determinista. Ele
defendeu de forma enérgica a liberdade de expressão e a tolerância religiosa.
LOCKE
Passaram-se duas semanas sem que Sofia tivesse contato com
Alberto, mas quando vinha da escola encontrou Hermes no jardim de sua casa e o
acompanhou até a residência de seu professor. Quando lá chegou, relembrou com
ele o que tinham discutido na última vez em que estiveram juntos. Então
começaram com o estudo sobre Locke, um filósofo da experiência ou empírico.
Antes, porém, falaram do racionalismo e de seus principais representantes no
séc. XVII que foram o francês Descartes, o holandês Spinoza e o alemão Leibniz.
Um empírico deriva todo o seu conhecimento daquilo que lhe dizem os sentidos. A
formulação clássica de uma postura empírica vem de Aristóteles. Locke repetiu
as palavras deste filósofo, mas o destinatário de sua crítica foi Descartes.
John Locke (1632-1704) foi o primeiro filósofo empírico inglês. Seu livro mais
importante chama-se Um ensaio sobre o entendimento humano. Nele, Locke tentava
explicar duas questões: em primeiro lugar, de onde o homem retirava seus
pensamentos e suas noções; em segundo, se podíamos confiar no que nossos
sentidos nos dizem.
Locke acreditava que todos os nossos pensamentos e nossas
noções nada mais eram do que um reflexo daquilo que um dia já sentimos ou
percebemos através de nossos sentidos. Antes de sentirmos qualquer coisa nossa
mente era como uma tábula rasa, uma lousa vazia. Ele estabeleceu a diferença
entre aquilo que se chama de qualidades sensoriais primárias e secundárias. Por
qualidades sensoriais primárias Locke entendia a extensão, peso, forma,
movimento e número das coisas. As secundárias eram as que não reproduziam as características
verdadeiras das coisas e sim o efeito que essas características exteriores
exerciam sobre os nossos sentidos. Locke chamou a atenção para o conhecimento
intuitivo ou demonstrativo. Ele acreditava que certas diretrizes éticas valiam
para todos e que era inerente à razão humana saber da existência de um Deus.
HUME
David Hume viveu de 1711 a 1776. Sua filosofia é considerada
até hoje como a mais importante filosofia empírica. Ele achava que lhe cabia a
tarefa de eliminar todos os conceitos obscuros e os raciocínios intricados
criados até então. Hume queria retornar à forma original pela qual o homem
experimentava o mundo. Constatou que o homem possuía impressões de um lado, e
idéias, de outro e atentou para o fato de que tanto uma quanto outra poderiam
ser ou simples ou complexas. Ele se preocupou com o fato de às vezes formarmos
idéias e noções complexas, para as quais não há correspondentes complexos na
realidade material. Era dessa forma que surgiam as concepções falsas sobre as
coisas. Ele estudou cada noção, cada idéia, a fim de verificar se sua
composição encontrava correlato na realidade. Ele achava que uma noção complexa
precisava ser decomposta em noções menores. Era assim que pretendia
chegar a um método científico de análise das idéias do
homem. No âmbito da ética e da moral, Hume se opôs ao pensamento racionalista.
Os racionalistas consideravam uma qualidade inata da razão humana o fato de ela
poder distinguir entre o certo e o errado. Hume, porém, não acreditava que a
razão determinasse as ações e pensamentos de uma pessoa.
BERKELEY
George Berkeley (1685-1753) foi um bispo irlandês. Ele cria
que a filosofia e a ciência de seu tempo constituíam uma ameaça para a visão
cristã do mundo. Além disso, achava que o materialismo, cada vez mais
consistente e difundido, colocava em risco a crença cristã de que Deus criou e
mantém vivo tudo existente na natureza. Ao mesmo tempo, porém, Berkeley foi um
dos mais coerentes representantes do empirismo. Ele dizia que tudo que existia
era só o que percebíamos e que aquilo que percebíamos não era matéria ou
substância. Acreditava também que todas as idéias tinham uma causa fora da
consciência, mas que esta causa não era de natureza material e sim de natureza
espiritual. Segundo Berkeley, portanto, a alma podia ser a causa das próprias
idéias, mas só outra vontade, só outro espírito podia ser a causa das idéias
que formavam o mundo material. Ele dizia que tudo vinha do espírito
"onipotente por meio do qual tudo existia". Afirmava que tudo que
víamos e sentíamos era um efeito da força de Deus, pois Ele estava presente no
fundo de nossa consciência e era a causa de toda a multiplicidade de idéias e
sensações a que estávamos constantemente sujeitos. Este espírito, no qual tudo
existia era o Deus cristão.
BJERKELY
Hilde Knag acordou na mansarda da antiga casa do capitão,
nas proximidades de Lillesand. Levantou-se e foi até a janela. Eram 15 de junho
de 1990, o dia de seu aniversário de quinze anos. Então, lembrou-se de que seu
pai estaria de volta do Líbano em uma semana. Na janela, ela observou o jardim,
o ancoradouro e a casa de barcos pintada de vermelho. Olhou para o lago e se
recordou de que uma vez caíra nele quando tinha seis ou sete anos por tentar
atravessá-lo sozinha no barco. Hilde tinha cabelos loiros e levemente ondulados
e olhos verdes. Quando olhou para o criado-mudo viu que sobre ele havia um
grande pacote, embrulhado num papel de presente e deduziu que era o presente de
seu pai. Havia muitas folhas datilografadas e na primeira página estava o
título O MUNDO DE SOFIA. Hilde acomodou-se na sua cama e começou a ler. Teve um
susto quando leu que Sofia recebera cartões-postais do Líbano, endereçados a
ela. Em vez de colocar os cartões dentro do pacote seu pai tinha escrito a mensagem
de "feliz aniversário" dentro do próprio presente. Então, continuou a
ler e não conseguia mais parar. A parte em que Sofia achou a cabana chamou
bastante a atenção de Hilde principalmente no tocante ao espelho, pois ele
realmente existia em sua casa. A cada capítulo lido, Hilde tinha a convicção de
que Sofia não era apenas uma personagem fictícia e que talvez ela existisse.
ILUMINISMO
O iluminismo foi um movimento que caracterizou o pensamento
europeu do século XVIII, baseado na crença do poder da razão e do progresso, na
liberdade de pensamento e na emancipação política. Muitos dos filósofos do
iluminismo francês tinham visitado a Inglaterra, que em certo sentido era mais
liberal do que a França. A ciência natural inglesa encantou esses filósofos
franceses. De volta a sua pátria, a França, eles começaram pouco a pouco a se
rebelar contra o autoritarismo vigente e não tardou muito a se voltarem também
contra o poder da Igreja, do rei e da aristocracia. Eles começaram a
reimplantar o racionalismo em sua revolução. A maioria dos filósofos do
Iluminismo tinham uma crença inabalável na razão humana. A nova ciência natural
deixava claro que tudo na natureza era racional. De certa forma, os filósofos
iluministas consideravam sua tarefa criar um alicerce para a moral, a ética e a
religião que estivesse em sintonia com a razão imutável do homem. Todos esses
fatores contribuíram para a formação do pensamento do iluminismo francês. Os
filósofos desta época diziam que só quando a razão e o conhecimento se difundissem
era que a humanidade faria grandes progressos. A natureza para eles era quase a
mesma coisa que a razão e por isso enfatizavam um retorno de homem a ela.
Falavam também que a religião deveria estar em consonância com a razão natural
do homem. O iluminismo foi o alicerce para a Revolução Francesa de 1789.
KANT
Immanuel Kant nasceu em Königsberg, uma cidade da Prússia
Oriental, em 1724. Ele conheceu muitos filósofos racionalistas e empíricos.
Achava que tanto os sentidos quanto a razão eram muito importantes para a
experiência do mundo e concordava com Hume e com os empíricos quanto ao fato de
que todos os conhecimentos deviam-se às impressões dos sentidos. Mas, e nesse
ponto ele concordava com os racionalistas, a razão também continha pressupostos
importantes para o modo como o mundo era percebido. Kant explicava que o espaço
e o tempo pertenciam à condição humana sendo propriedades da consciência, e não
atributos do mundo físico. Ele afirmava que a consciência se adaptava às coisas
e vice-versa acreditava que a lei da causalidade era o elemento componente da
razão humana e que era eterna e absoluta, simplesmente porque a razão humana
considerava tudo o que acontecia dentro de uma relação de causa e efeito. Ele
atentou para o fato de haver limites bem claros para o que o homem podia saber
e achava que o ser humano jamais poderia chegar a um conhecimento seguro a
respeito da existência de Deus, de que o universo era ou não infinito, etc.
Outro pensamento de Kant era o de que a razão operava fora dos limites daquilo
que os seres humanos poderiam compreender. Existiam dois elementos que
contribuíam para o conhecimento do mundo: a experiência e a razão. Achava que o
material para o conhecimento era dado através dos sentidos que se adaptava, por
assim dizer, às características da razão.
O ROMANTISMO
O Romantismo começou na Alemanha, em fins do século XVIII,
como uma reação à parcialidade do culto à razão apregoado pelo iluminismo e
durou até meados do século passado. Suas palavras de ordem eram: sentimento,
imaginação, experiência e anseio. No Romantismo, o indivíduo encontrava caminho
livre para fazer sua interpretação e professava uma glorificação quase
irrestrita do "eu". Os românticos acreditavam que só a arte era capaz
de aproximar alguém do indizível. Alguns levaram essa reflexão às últimas
conseqüências e chegaram a comparar o artista com Deus. Costumava-se dizer que
o artista possuía uma espécie de imaginação criadora do mundo e em seu êxtase
artístico seria capaz de experimentar um estado em que as fronteiras entre
sonho e realidade desapareceriam. Os românticos sentiam-se atraídos pela noite,
pelo crepúsculo, por antigas ruínas e pelo sobrenatural. Interessavam-se muito
pelo que se chama de lado oculto da vida: o obscuro, o misterioso, o místico. O
Romantismo foi sobretudo um fenômeno urbano. Precisamente na primeira metade do
século passado, a cultura urbana vivia um período de apogeu em muitas regiões
da Europa. Dizia-se que, para o artista a ociosidade era o ideal e a
indolência, a primeira virtude do romântico e que era seu dever viver a vida,
ou imaginar-se distante dela. Uma das características mais importantes deste
período era o amor pela natureza e por sua mística. O Romantismo também foi uma
reação à visão do mundo mecanicista do iluminismo. Isto significa que a
natureza voltou a ser vista como um todo, como uma unidade. Devido ao fato de o
Romantismo ter trazido consigo uma reorientação em tantos setores, costuma-se
distingui-lo de duas formas: Romantismo Universal e o Nacional. No primeiro, os
românticos se preocupavam com a natureza, a alma do mundo e com o gênio
artístico. No segundo, eles interessavam-se sobretudo pela história do povo,
sua língua e também pela cultura popular.
KIERKEGAARD
Kierkegaard nasceu em Copenhague em 1813. Ele se opôs
intensamente aos pensamentos de Hegel, o próximo filósofo a ser estudado, e
disse que a filosofia da unidade dos românticos e o historicismo de Hegel
tinham tirado do indivíduo a responsabilidade pela sua própria vida. Para Kierkegaard,
mais importante do que a busca de uma verdade era a busca por verdades que são
importantes para a vida de cada indivíduo. Ele dizia também que a verdade era
subjetiva não no sentido de que era totalmente indiferente o que pensamos ou
aquilo em que acreditamos, mas que as verdades realmente importantes eram
pessoais. Kierkegaard achava que havia três possibilidades diferentes de
existência e as denominou de estágio estético,
estágio ético e estágio religioso. Quem vive no estágio
estético vive o momento e visa sempre o prazer. O estágio ético, é marcado pela
seriedade e por decisões consistentes, tomadas segundo padrões morais. Quem
vive no estágio religioso prefere a fé ao prazer estético e aos mandamentos da
razão. Para Kierkegaard, o estágio religioso era o cristianismo.
HEGEL
Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu em 1770, em Stuttgart.
Ele reuniu e desenvolveu quase todos os pensamentos surgidos entre os
românticos. Hegel também empregou o conceito espírito do mundo, mas lhe
atribuiu um sentido diferente do de outros românticos. Quando falava de
espírito ou razão do mundo, ele estava se referindo à soma de todas as
manifestações humanas. Ele dizia que a verdade era basicamente subjetiva e
contestava a possibilidade de haver uma verdade acima ou além da razão humana.
Achava também que as bases do conhecimento mudavam de geração para geração e,
por conseqüência, não existiam verdades eternas. Ele dizia que a razão era algo
dinâmico e que fora do processo histórico não existia qualquer critério capaz
de decidir sobre o que era mais verdadeiro e o que era mais racional.
Acreditava que quando se refletia sobre o conceito de "ser" não tinha
como deixar de lado a reflexão da noção oposta, ou seja, o "não ser"
e que a tensão entre esses dois conceitos era resolvida pela idéia de
transformar-se. Hegel atribuiu uma importância enorme àquilo que chamou de
forças objetivas: a família e o Estado. Ele achava que o indivíduo era a parte
orgânica de uma comunidade e que a razão ou o espírito do mundo só se tornavam
possíveis na interação das pessoas e dizia também que o Estado era mais que o
cidadão isolado e mais que a soma de todos os cidadãos. Hegel achava impossível
desligar-se da sociedade por assim dizer. Para ele, quem dava as costas à
sociedade na qual vivia e preferia encontrar-se a si mesmo era um louco. Ele
falava que não era o indivíduo que encontrava a si mesmo, mas o espírito do
mundo e tentou mostrar que este retorna a si em três estágios: em primeiro
lugar, o espírito do mundo se conscientiza de si mesmo no indivíduo (chama-se
de razão subjetiva); depois, atinge um nível mais elevado de consciência na
família, na sociedade e no Estado, (chama-se de razão objetiva); e enfim atinge
a forma mais elevada de autoconhecimento na razão absoluta. E esta razão
absoluta eram a arte, a religião e a filosofia, sendo esta última a mais
elevada da razão. Só na filosofia era que o espírito do mundo se encontraria.
Desse ponto de vista, a filosofia podia ser considerada o espelho do espírito
do mundo.
MARX
Marx foi um filósofo materialista e seu pensamento tinha um
objetivo prático e político. Foi também um historiador, sociólogo e economista.
Ele achava que eram as condições materiais de vida numa sociedade que
determinavam o pensamento e a consciência e que tais condições eram decisivas
também para a evolução da história. Nesse sentido, Marx dizia que não eram os
pressupostos espirituais numa sociedade que levavam a modificações materiais,
mas exatamente o oposto: as condições materiais determinavam, em última
instância, também as condições espirituais. Além disso, achava que as forças
econômicas eram as principais responsáveis pela mudança em todos os outros
setores e, conseqüentemente, pelos rumos do curso da história. Para Marx, as
condições materiais sustentavam todos os pensamentos e idéias de uma sociedade
sendo esta composta por três camadas: embaixo de tudo estavam as condições
naturais de produção que compreendiam os recursos naturais; a próxima camada
era formada pelas forças de produção de uma sociedade, que não era só a força
de trabalho do próprio homem, mas também os tipos de equipamentos, ferramentas
e máquinas, os chamados meios de produção; a terceira trata das relações de
posse e da divisão do trabalho, chamada de relações de produção de uma
sociedade. Para ele, o modo de produção determinava se relações políticas e
ideológicas podiam existir. Marx falava que toda a história era a história das
lutas de classes. Pensava a respeito do trabalho humano falando que quando o
homem labutava, ele interferia na natureza e deixava nela suas marcas e
vice-versa. Marx foi a pessoa que deu grande impulso ao comunismo. Ele atacava
fortemente o sistema capitalista que vigorava em todo mundo e achava que seu
modo de produção era contraditório. Para ele, o capitalismo era um sistema
econômico autodestrutivo, sobretudo porque lhe faltava um controle racional.
Ele considerava o capitalismo progressivo, isto é, algo que aponta para o
futuro, mas só porque via nele um estágio a caminho do comunismo.
Segundo Marx, quando o capitalismo caísse e o proletariado
tomasse o poder, haveria o surgimento de uma nova sociedade de classes, na qual
o proletariado subjulgaria à força a burguesia. Esta fase de transição Marx
chamou de ditadura do proletariado. Depois disso a ditadura do proletariado
daria lugar a uma sociedade sem classes, o comunismo e esta seria uma sociedade
na qual os meios de produção pertenceriam a todos. Em tal estágio, cada um
trabalharia de acordo com sua capacidade e ganharia de acordo com suas necessidades.
DARWIN
Darwin foi um cientista que, mais do que qualquer outro em
tempos mais modernos, questionou e colocou em dúvida a visão bíblica sobre o
lugar do homem na criação. Ele achava que precisava se libertar da doutrina
cristã sobre o surgimento do homem e dos animais, vigente em sua época. Darwin
nasceu em 1809 na cidade de Shrewsbury. Em um de seus livros publicados, Origem
das espécies, defendeu duas teorias ou idéias principais: em primeiro lugar
dizia que todas as espécies de plantas e animais existentes descendiam de
formas mais primitivas, que viveram em tempos passados. Ele pressupôs,
portanto, uma evolução biológica. Em segundo, Darwin explicou que esta evolução
se devia à seleção natural. Um dos argumentos propostos por ele para a evolução
biológica era o fato de existir depósitos de fósseis estratificados em
diferentes formações rochosas. Outro argumento era a distribuição geográfica
das espécies vivas (ele havia visto com seus próprios olhos que as diferentes
espécies de animais de uma região distinguiam-se umas das outras por detalhes
mínimos). Darwin não acreditava que as espécies eram imutáveis, só que lhe
faltava uma explicação convincente para o modo como se processava a evolução. O
que ele tinha era um argumento para a suposição de que todos os animais da
Terra possuíam um ancestral comum: a evolução dos embriões dos mamíferos, mas
continuava sem explicar como se processava a evolução para as diferentes
espécies. Enfim chegou a uma conclusão: a responsável era a seleção natural na
luta pela vida, ou seja, quem melhor se adaptava ao meio ambiente, sobrevivia e
podia garantir a continuidade de sua espécie. "As constantes variações
entre indivíduos de uma mesma espécie e as elevadas taxas de nascimento
constituem a matéria-prima para a evolução da vida na Terra. A seleção natural
na luta pela sobrevivência é o mecanismo, a força propulsora que está por trás
desta evolução. A seleção natural é responsável pela sobrevivência dos mais
fortes, ou dos que melhor se adaptam ao seu meio".
FREUD
Freud nasceu em 1856
e estudou medicina na Universidade de Viena. Ele achava que sempre havia uma
tensão entre o homem e o seu meio. Para ser mais exato, um conflito entre o
próprio homem e aquilo que o seu meio exigia dele. Ele descobriu o universo dos
impulsos que regiam a vida do ser humano. Com freqüência, impulsos irracionais
determinavam os pensamentos, os sonhos e as ações das pessoas. Tais impulsos
irracionais eram capazes de trazer à luz instintos e necessidades que estavam
profundamente enraizados no interior dos indivíduos. Freud chegara a conclusão
da existência de uma sexualidade infantil por meio de sua prática como
psicoterapeuta. Ele também constatou que muitas formas de distúrbios psíquicos
eram devido a conflitos ocorridos na infância. Após um longo período de
experiência com pacientes, concluiu que a consciência seria mais ou menos como
a ponta de um iceberg que se elevava para além da superfície da água. Sob a
superfície ou sob o limiar da consciência, estava o subconsciente ou
inconsciente. A expressão inconsciente significava, para Freud, tudo o que
reprimimos.
NOSSO PRÓPRIO TEMPO
Hilde estava gostando bastante do presente que ganhara de
seu pai e não parava a leitura por nada. Esquecia-se até de comer. Ela refletia
sobre tudo que lia e sempre chegava a conclusões que às vezes nem entendia.
Então voltou a ler. Sofia estava voltando para casa e no meio do caminho lhe
aconteceram coisas estranhas. Quando chegou a sua casa, passaram alguns
instantes até que sua mãe retornasse também. As duas foram limpar o jardim para
a festa de
Sofia. Na manhã seguinte, Alberto ligou e marcou um encontro
no "Café Pierre" para falar sobre o existencialismo.
O existencialismo tem como ponto de partida única e
exclusivamente o homem. Vale ressaltar que todos os filósofos existencialistas
eram cristãos. Jean-Paul Sartre foi um de seus principais representantes. Ele
ainda fez um comentário sobre a revolução tecnológica por que o mundo passava.
Depois dessa explicação, foram até uma biblioteca que ficava
ali perto e Alberto deu de presente a Sofia um livro.
A FESTA NO JARDIM
Hilde já estava quase no final do livro. Ela sentia que
tinha prendido muita coisa desde que começara a ler O Mundo de Sofia. Ela
prosseguiu com a leitura. Sofia pegou um ônibus para voltar par casa e por
coincidência sua mãe estava nele. Quando chegaram ao seu destino, desceram e
passaram o resto do dia organizando e terminando os preparativos para a festa.
Entre os que viriam, estava Alberto. Os convidados começaram a chegar. Vieram
Jorunn e seus pais e alguns colegas do colégio onde Sofia estudava. Todos
estavam ansiosos pela chegada do já comentado professor de filosofia de Sofia.
Então ele chegou e fez um discurso que contava tudo que estava ocorrendo. Falou
sobre Hilde e seu pai e que tudo que estava acontecendo e a existência de todos
que estavam ali não passava de uma brincadeira inventada para divertir Hilde no
dia de seu aniversário. Os pais de Jorunn acharam aquilo absurdo e a mãe de
Sofia não estava entendendo nada. Então Sofia contou-lhes que teria que ir
embora com Alberto. Sua mãe, mesmo triste, aceitou e os dois sumiram pela
floresta.
O CONTRAPONTO
Hilde refletiu sobre o que havia acontecido e ficou curiosa
para saber onde os protagonistas daquela história teriam ido parar, o que
realmente tinha acontecido, mas a história tinha acabado. Será que a própria
Hilde agora deveria continuar a história? Então, de repente, ocorreu-lhe uma
idéia: se Alberto e Sofia realmente tinham conseguido fugir da história, não
poderia haver nada escrito sobre isto nas páginas do fichário. Afinal tudo que
estava escrito ali era do conhecimento de seu pai. Nos dias seguintes que se
passaram, ela e sua mãe foram preparar a festa de São João, que seria no Sábado.
Sofia e Alberto conseguiram escapar do livro e agora estavam em outro local
como se fossem almas ou espíritos.
Quando o pai de Hilde chegou ao aeroporto, encontrou várias
mensagens como as que ele mandava para Sofia. Era sua filha pregando-lhe uma
peça e enquanto isso Sofia e Alberto estavam indo para Lillesand para a
residência de Hilde. Durante este percurso eles perceberam que estavam fazendo
parte de outro mundo, uma espécie de mundo da eternidade..
Hilde esperava o seu pai no jardim onde também já se
encontravam Sofia e Alberto. Eles estavam invisíveis. Quando o Major Albert
Knag (este era o nome do pai de Hilde) chegou, deu um grande abraço em sua
filha e foram jantar. Depois, os dois foram para o jardim conversar.
A GRANDE EXPLOSÃO
Hilde escutava atentamente seu pai falar sobre o universo.
Sofia e Alberto também estavam ali, ouvindo tudo. Seu pai lhe falou sobre a
origem do universo, a teoria do Big Bang, que foi uma grande explosão cósmica
ocorrida há bilhões de anos atrás, sobre astronomia, gravidade, inércia e falou
que na noite de Ano Novo antes dele viajar para o Líbano foi que decidira
escrever-lhe o livro de filosofia. Hilde estava encantada.
Enquanto isso, Alberto e Sofia, que estavam perto do lago,
foram até o barco e o soltaram. Hilde não entendeu e então se lembraram do
episódio do livro em que Sofia toma emprestado o bote de seu professor e
resolveram nadar juntos até o barco.